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¨«O filósofo ironiza», dizia Sócrates; quase todos os diálogos de Platão refletem em algumas passagens esta ironia que, para Sócrates, acompanhava toda a reflexão séria, a tal ponto que imensas discussões filosóficas se nos apresentam como verdadeiras cenas de comédia.
Torna-se importante observar que a ironia socrática não se tratava de um talento satírico ou da expressão de um desejo de difamação. Conforme a observação de Romano Guardini:
« A ironia de Sócrates […] não visa desqualificar o outro, mas ajudá-lo. Ela quer libertá-lo e abri-lo à verdade[…]. A sua ironia procura criar um mal-estar e uma tensão no centro do homem, para que aí proceda o movimento esperado, no próprio interlocutor, se este não puder ser socorrido, no auditor.» ( in Jean Brun, página 83)
Sócrates encontrava-se frequentemente face a temíveis profissionais do saber e da eloquência que nunca se sentiam apanhados desprevenidos, eram mestres que tinham resposta para tudo e que ignoraram a hesitação do escrúpulo e da interrogação da reflexão. Sócrates, ao contrário, era o homem das interrogações, aquele que nunca se deixava enclausurar em nenhum sistema, aquele que se recusava a ter ponto certo o que não era, ou a estiar como problemática aquilo que era perfeitamente certo.
Os interlocutores de Sócrates, como Hípias, que sabia fazer tudo, como Protágoras, que se dava ares de um professor de virtude, Cálices ou Trasímaco, que pensavam puder fundar uma moral e uma política sobre o «direito» do mais forte, não eram irónicos, eram pelo contrário personagens sérios, isto é, personagens que levavam a sério esses assuntos. Mas a sua seriedade era uma falsa seriedade. Era a essa seriedade é que se opunha à ironia socrática. Assim, era a seriedade dos interlocutores de Sócrates que nos devia fazer sorrir, ao passo que a ironia do filósofo devia ser, ela, levada a sério, pela simples razão de que ela era a verdadeira consciência.
A ironia de Sócrates consistia em apanhar o homem sério na sua própria armadilha, mostrando-lhe que essa seriedade repousa na ignorância que se ignora. Como diz Bergson:
«A ironia que ele passeia com ele é destinada a afastar as opiniões que não sofreram a prova da reflexão e a envergonhá-las, por assim dizer, pondo-as em contradição consigo mesmas.» ( in Jean Brun, página 84)
É por isso que o procedimento de Sócrates era frequentemente o seguinte: O diálogo que começava pela procura de uma definição, o verdadeiro, o justo, o belo, a piedade, um interlocutor seguro de si que dava imediatamente uma definição. Sócrates ficava maravilhado, aceitava a definição do interlocutor que se impertigava, e tirava dela, com o seu consentimento, deduções cada vez mais precisas. O interlocutor não deixava de seguir Sócrates e de o aprovar, extremamente satisfeito por ver que a sua definição ainda era mais rica do que ele próprio tinha julgado. Depois, subitamente, Sócrates estacava e mostrava que o ponto de chegada estava em contradição formal com o ponto de partida. Se o interlocutor estivesse de boa fé ele concluía daí que a definição de nada valia e que era necessário propor uma outra. Sócrates retomava então a discussão e passava ao crivo as definições sucessivas que lhe propunham. Muitas vezes o diálogo concluía-se e Sócrates deixava o seu interlocutor confundido dizendo-lhe que talvez numa outra altura pudessem examinar de novo o problema. Mas podia acontecer que o interlocutor estivesse de má-fé e que então se recusasse a participar na conversa e a admitir a sua ignorância. Se a pessoa se entregava ao orgulho ferido, tornava-se um inimigo feroz, e foi esta a razão que lhe custou a vida.¨
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/metodosocratico.htm
http://meuartigo.brasilescola.com/filosofia/o-metodo-dialetico-socrates-sua-finalidade-1.htm#
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