Filosofia da Arte. Pensando na ARTE: expressão da IMAGINAÇÃO, da CRIATIVIDADE e dos SENTIMENTOS humanos. Boca Livre – “O Trenzinho do Caipira” com poema de Ferreira Gullar.

Filosofia da Arte. Poesia. Ferreira Gullar

¨O Gol¨

Ferreira Gullar

(Participação do aluno, B.L.C.)

A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a para
no ar
depois
com o joelho
a dispõe a meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração.

Reflexões:

1- Toda arte é útil?

2- Toda arte é bela?

3- A arte tem de ser bela ou útil?

Filosofia da Arte e Ética. POESIA. José Ribamar Ferreira. Ferreira Gullar

LIEBSTERBLOGAWARD MLD

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

Ferreira Gullar

Atividade:

Aponte os versos que mais gostou e diga por quê.

FerreiraGullar saraivaconteudo com br

Filosofia da Arte e Política. POESIA. José Ribamar Ferreira. FERREIRA GULLAR

LIEBSTERBLOGAWARD MLD

¨A Bomba Suja¨
Ferreira Gullar
Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palavra fria
Mas pelo que ela semeia.
Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais.
No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.
Que mata mais do que faca,
mais que bala de fuzil,
homem, mulher e criança
no interior do Brasil.
Por exemplo, a diarreia,
no Rio Grande do Norte,
de cem crianças que nascem,
setenta e seis leva à morte.
É como uma bomba ‘D’
que explode dentro do homem
quando se dispara, lenta,
a espoleta da fome.
É uma bomba-relógio
(o relógio é o coração)
que enquanto o homem trabalha
vai preparando a explosão.
Bomba colocada nele
muito antes dele nascer;
que quando a vida desperta
nele, começa a bater.
Bomba colocada nele
Pelos séculos de fome
e que explode em diarreia
no corpo de quem não come.
Não é uma bomba limpa:
é uma bomba suja e mansa
que elimina sem barulho
vários milhões de crianças.
Sobretudo no Nordeste
mas não apenas ali
que a fome do Piauí
se espalha de leste a oeste.
Cabe agora perguntar
quem é que faz essa fome,
quem foi que ligou a bomba
ao coração desse homem.
Quem é que rouba a esse homem
o cereal que ele planta,
quem come o arroz que ele colhe
se ele o colhe e não janta.
Quem faz café virar dólar
e faz arroz virar fome
é o mesmo que põe a bomba
suja no corpo do homem.
Mas precisamos agora
desarmar com nossas mãos
a espoleta da fome
que mata nossos irmãos.
Mas precisamos agora
deter o sabotador
que instala a bomba da fome
dentro do trabalhador.
E sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.
(Rio, 1962)

http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/

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Atividades

1. Esta poesia, escrita em 1962, portanto, há 51 anos atrás, diz respeito a uma realidade. Presente ou passada? Justifique.

2. Quais os versos que mais lhe chamaram a atenção? Por quê?

3. Já tinha ouvido falar desse poeta? Poderia escolher um outro poema seu e falar sobre ele?

4. Faça as suas perguntas para os debates em sala de aula.

(‘Por Uma Pedagogia da Pergunta’ – Paulo Freire)